domingo, 27 de setembro de 2009

quarta-feira, 23 de setembro de 2009




"A poesia do mundo reside na sua multipicidade"


E não só. O mundo fervelha de palavras que não se dizem, gestos que não se expressam, vontades que não se matam. Mas a sua presença paira no ar, contantemente. A multiplicidade faz do mundo e dos seres que nele residem uma particula espaciotemporal independente com aptidões estereotipadas. Mas é na própria multiplicidade que consiste o desigual, o equidistante das razões, emoções, sentidos e perspectivas que, apesar de sofrerem de um disturbio social de liberdade, existem e fazem de nós, aos nossos olhos, seres unicos e inigualáveis. A verdade é que tudo o nos rodeia acaba por ser igualmente unico, nas respectivas durações, subjectivas, pois é-nos transmitido através de nós, para os mesmos. Falar de multiplicidade é expressar, de um modo empirico, embora precário, aquilo que absorvamos do que nos rodeia, do que experienciamos, do que vivemos. Pois é impossivel multiplicar de igual modo a infinita diversidade de apreensões, compreensões e expressões com exactidão precisa e cirúrgica por cada indivíduo. Por exemplo, a excessiva utilização de léxico gramatical na minha compreensão e posterior expressão do que se afirma consistir a platónica poesia do mundo, não mostra nada mais que a equivalente intriga que apresento a esse mesmo assunto, uma intriga abstracta e não concreta, pois não me é possivel discordar, concordar ou fazer juizos de valor seja do que for quando não existe uma veracidade associada ao mesmo. Aquilo que pretendo com esse mesmo excesso é, talvez, reforçar, não aquilo que é, na verdade, a poesia do mundo, mas aquilo que o mundo apresenta ser para mim, ou representa. A poesia de emoções ou a prosa dos sentidos. Agora digam-me, o que pode significar o abusivo uso da língua para expressar seja o que for quando a capa da ideia, o cerne do pensamento, a introdução, aquilo que dá sentido e resume tudo o que pode ser dito, neste caso, o título, se apresenta nulo, vazio, sem quaisquer vestigios de síntese ou de sentimento?


Gary Go - Brooklin/Heart and Soul

sábado, 12 de setembro de 2009

Théorie du voyage




Um dia, de mala às costas, partirei rumo à instabilidade física e psicológica, numa viagem facultada por todos os meios de transporte, com todos os estados físicos envolventes, numa jornada que permitirá o encontro da minha pessoa com outras formas de vida, e outras formas de morte. Não só isso, mas também o encontro da minha pessoa com ela mesma, num redescobrir constante, embora irregular. Nessa platónica viagem, adoptarei a posição de viajante, não de turista, pondo de parte quaisquer conhecimentos e/ou experiências culturais a posteriori e lançar-me à descoberta de novas realidades, novos mundos e novas gentes. Desde sempre que, na sociedade, os viajantes são alvos de preconceito por parte das massas turisticas, e da população em geral. Esse facto deve-se à desafixação associada à oposição dos estilos de vida de cada um, ao facto de, como viajantes, não serem de lado algum, escaparem à institualização imposta pela sociedade e não respeitarem quaisquer regras de ordenação mundial.


“'Enquanto nómada auto-suficiente, o viajante recusa o tempo social, colectivo e limitador, em proveito de um tempo singular construído a partir de durações subjectivas e de instantes festivos apetecidos e desejados. Associal, insociável, irrecuperável, o nómada ignora o relógio e guia-se pelo Sol e pelas estrelas, aprende com as constelações e com o movimento do astro no céu, não tem horários, mas possui um olho de animal acostumado a distinguir as alvoradas, as auroras, as trovoadas, as abertas, os crepúsculos, os eclipses, os cometas, as cintilações estelares, sabe ler as nuvens e decifrar as suas promessas, interpreta os ventos e conhece os seus hábitos.'”


Viajar pressupõe, portanto, recusar o horário laborioso da civilização em proveito do lazer inventivo e jovial. A arte da viagem exorta a uma ética lúdica, a uma declaração de guerra ao controlo e à cronometragem da existência. A cidade obriga ao sedentarismo legível graças a uma abcissa espacial e a um ordenamento temporal: estar num determinado lugar num preciso momento. Deste modo, o indivíduo é controlado e facilmente localizado por uma autoridade. O nómada, por seu lado, recusa esta lógica que permite transformar o tempo em dinheiro e a energia singular, o único bem do qual dispomos, em moedas sonantes e trôpegas.

Um dia, nesse dia, as posições actor/expectador não se irão pôr em causa, a estrada vai ser o palco, assim como as cadeias montanhosas, os campos infinitos e os incansáveis oceanos. O pensamento os bastidores, assim como as folhas de papel, o ecrã fotográfico, as mensagens enviadas e as lições recebidas. Nesse dia, vou vagamente recordar o tempo em que imaginava o futuro, agora, lá, presente, e não me vou dar conta de onde estou, quando estou, mas saberei que o estar está incutido, e não um triunfo platónico em que a probabilidade da viagem preciosamente sonhada se atenua com a redução do mundo às suas aparências. Um dia, experienciarei a partilha, a troca, o silêncio, o cansaço, o projecto, a realização, o riso, a tensão, o relaxamento, a emoção e a cumplicidade da forma mais primitiva e crua. Um dia, nesse dia.

Moby - Porcelain


quinta-feira, 3 de setembro de 2009

CORONA

Inicio. Procuro o significado dessa palavra, para assim dar um sentido àquilo que pretendo daqui. Talvez não seja um sentido, seja criar um caminho, ou vários, para me poder seguir e dizer quem sou, como sou, como estou. Poderia começar com o meu nome, coisas sobre a minha familia, amigos, o meu estado de espirito. Mas nada disso interessa, pelo menos para já. Fico parado largos segundos, estático, a olhar para o ecrã e a perguntar-me: o que vou escrever? Costumo tirar inspiração daquilo que me capta a atenção, nem que seja por um instante.
Ouço música como se estivesse numa conversação com alguém que acabo de conhecer. Expectativo, interessado, procuro saber a mensagem dessa pessoa, da pessoa que escreveu a musica, que a compôs e que a tocou, cantou. Como se essa pessoa estivesse a falar directamente comigo. Lembrei-me disto porque, antes de escrever, liguei o ipod e comecei a ouvir uma musica, já conhecida, que sempre que falou comigo me disse coisas diferentes, por vezes confusas, mas que sempre serviram para alguma coisa. Não consigo perceber as pessoas que não ouvem a musica, como se toda a combinação de sons que lhes chega aos ouvidos não passasse de um som sinusoidal, perfeito, mas incompleto, vazio.
Escrever, essa é outra das minhas aspirações, ou pelo menos inspirações, que eu procuro aperfeiçoar, embora me saia melhor quando o faço sem pensar demasiado, transpondo os pensamentos para o papel. Só lamento a minha mão não ser capaz de acompanhar o meu pensamento. Tenho a preferência de escrever à mão, as palavras ficam mais palpáveis, mais cruas, mais reais. E é essa a mensagem base que procuro transmitir quando muitas vezes escrevo e/ou apresento as minhas ideias. "Simplicity is the ultimate sophistication".
Não sei o que pretendo, nem o que esperar desta janela virtual onde os pensamentos se espalham em palavras, imagens e sons mas tenciono tirar e pôr algo, por mais ínfimo que seja, proveitoso e compensador. Decerto que existirá uma amálgama de sínteses que pode ninguém compreender, complexas ou simplificadas, empíricas ou meramente teóricas, mas tudo posso esperar. Ou nada.
Agora, leio e releio este discurso precário sobre mim e a minha personalidade e não consigo enquadrar um título a esta página. Provavelmente não terá título e a ausência do mesmo será o próprio, tornando-a mais misteriosa, mais anónima. Ou talvez não.
Voices - Dario G