segunda-feira, 26 de abril de 2010

New (Old) Ones

Chega um momento nas nossas vidas em que nos vimos obrigados a mudar de pessoa, de ideias, ambições, desejos e cenários para poder 'sobreviver', rodeados de interrogações, palavras exaltadas e reticentes, que nos questionam perante os nossos, perante nós, e nos fazem questionar crenças, razões, pessoas. Nesse momento perdemos raízes, é-nos desprendida a identidade, a entidade perante os outros, tornamo-nos por instantes (e sentimo-nos) seres inexistentes, perdidos, irrecuperáveis. Com o poder que nos foi dado de racionalizar apreensões exteriores, adaptamos o animal que então somos à sociedade que nos rodeia, às pessoas que se deparam perante nós, tentamos recuperar as pessoas perdidas junto de outras e, com o tempo, acabamos por nos perder a nós próprios e à pessoa que costumávamos ser, sem conseguirmos sequer dar conta. Essa adaptação ao novo núcleo renova as nossas ideias, os nossos ideais e as pessoas em quem precisamos confiar, que precisamos ter para nos sentirmos alguém. Essa renovação transforma mais que uma pessoa, transfigura histórias, momentos vividos, pessoas na vida de outras, importantes ou não. É como perder parte de outros, parte de nós, do que somos, do que éramos, tudo a vigor de uma sobrevivência social necessária, inquestionável.

Um dia, como tantos outros, algo nos faz relembrar esse passado, essa nossa anciã pessoa, e questionamos as mesmas razões que nos fizeram partir, perguntamo-nos onde fomos parar, porque lá estamos, como deixámos. Nesse dia há um confronto de novas e diferentes mentes, não há qualquer reconhecimento entre pessoas, entre ideias, depara-se o olhar de surpresa, de espanto, de nostalgia. Mais que isso, não nos vemos nessa pessoa, deixamos de nos reconhecer perante ela, embora por instantes haja um vislumbre animal que nos faz querer aproximar dessa mesma velha nova pessoa, ao contrário de continuar um inerte incomunicável. Nessa fracção de segundos, onde nos vemos no vazio que outrora costumávamos ocupar, reparamos que perdemos não só a pessoa que conheciamos e que agora deparamos, mas também fragmentos da nossa própria história e sentimo-nos estranhos, com flashes de uma outra vida, de uma outra rotina. Queremos voltar a conhecer, recuperar a pessoa na própria pessoa, fazer parte do novo que ocupa e partilhar quem somos agora. Darmo-nos para nos receber (de novo).


Amigos certos revelam-se em ocasiões incertas. E vice-versa.



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