quarta-feira, 28 de abril de 2010

Ripping Sky


Numa corrida contra o tempo, o avião desloca-se milhas após milhas, contrariando a força do vento, o peso da carga humana e da sua bagagem. Rasga núvens com uma graciosidade mordaz, uma força silenciosa indecifrável aos olhos terrestres que nos sobrevoa as mentes, numa passagem repentina, efémera. Nesse avião reside a vontade de chegar, o desejo de partir, as cabines transbordam de objectivos e expectativas. A sua viagem é alcançada na procura de um novo destino, na chegada ao mesmo e é-nos prometida uma segurança espacial de circulação, é-nos dada essa mesma expectativa, numa outra linguagem, mesmo com semelhante dialecto. A turbulência surge para nos relembrar das limitações dessa segurança platónica, para nos agitar dos sonhos e lembrarmo-nos da mortalidade a que estamos destinados. No tempo de digressão, suporta o que é preciso para voar, mesmo com os pés assentes no seu habitáculo, somos invadidos por adernalina e deslumbramento, leveza física e mental, que nos faz descomprimir da gravidade a que fugimos. Lá em baixo, minusculas particulas caminham numa rota definida, vísivel das alturas, as suas ideias evaporam-se no ar, não as ouvimos, nem queremos.
A aterragem anuncia a chegada ao destino, ao peso e à ideia, e remete-nos sempre para um primário começo, num diferente cenário. Toda essa viagem é feita nos corredores da mente, com sensações físicas e visuais. Sentimo-nos a chegar e estranhamos a carga dos nossos ombros ao pisar o novo espaço, o mesmo peso a que fugimos e que descobrimos fazer parte de nós e dos nossos objectivos, não de onde vimos nem para onde vamos.
A viagem de descoberta consiste não em achar novas paisagens, mas ver com novos olhos. (Marcel Proust)

1 comentário:

  1. Daquilo que normalmente tentamos fugir, é algo que faz parte de nós e em vez de fugir dele, temos de tentar viver com ele em harmonia. Mas uma viajem é sempre uma viajem, seja física ou psicológica acabamos por aprender sempre algo...

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